I Need/Want a Little Sugar In My Bowl

                

O lamento de Bessie Smith foi eternizado em seu refrão de angústia e decepção, o coração de uma mulher entre as exigências de sua profissão, por sua cor e situação financeira. Bessie cantou em profunda interpretação, uma de suas obras de mais sucesso e com muitas releituras de seu repertório dourado e precioso para o blues, o jazz e as fagulhas românticas que adentrariam no pop.

“Eu quero um pouco de açúcar na minha tigela/Eu quero um pouco de doçura/Para baixo em minha alma/Eu poderia ficar com algum amor/Oh tão ruim/Eu me sinto tão engraçado e eu me sinto tão triste”

                
O passar do tempo determina os que ficarão e os que serão tragados pela intempérie, assim I need a little sugar in my bowl, manteve quase que intacta, sua melodia e ritmo inspirou outra grande cantora, a maior em seu tempo somando sua performance vocal esplêndida e o talento único com o piano, a qual sonhava em ser concertista clássica. Nina Simone a suma sacerdotisa do blues, estilo onde Bessie é a imperatriz, a figura máxima da musica no blues antigo, raiz.

               

A versão de Nina, mais leve e menos emblemática que a original, deu asas maiores a canção quanto ao mercado e execuções em rádios, normal quando se trata de uma versão atual e que deixa para trás a baixa qualidade de som das primeiras gravações da década de 20/30. Adicionando um refrão mais cativante ao ouvinte e declarando com tamanha precisão seus sentimentos, algo inerente ao blues.


Christina Aguilera trouxe a pompa e o glamour em sua voz limpa e bela numa versão sexy e atrevida do hino de Miss Smith. As notas graves e a alusão dos gestos se referem a versão menos recatada de Nina Simone, inclusive a letra onde canta I want little sugar in my bowl..., ao invés de I need little sugar in my bowl... mostrando o porque está ainda na música, sua versatilidade e originalidade foi provada com êxito.
          


Apesar de estar acompanhada das maiores do Blues nesta canção, Aguilera nos compartilhou uma versão dela, de sua interpretação e sua maneira crua de cantar, sem ajustes computadorizados, sem batidas ou base eletrônica que destoasse do trabalho que gostaria de apresentar ao seus fãs. Grávida, sentada em um confortável acolchoado e um sax em sua companhia, assoprou sua versão encorajada, em notas gravíssimas e outras que bailavam entre o agudo e o lamento.
                
Três versões distintas da mesma canção delibera aos menos esclarecidos a veia pungente e firme de Bessie e Nina ainda entre os dias de hoje, a letra e melodia conseguem comunicar normalmente com os dias atuais, e Christina se manteve em sua responsabilidade de cativar os espectadores com a maestria da Old School diluída em seu pop retrô, de olhos azuis e cabelos mais alvos do que algumas nuvens.

                                                         - Marcos Leite